23 Mai 2022
Faz parte do ministério do papa garantir de forma permanente e estável a máxima integridade dos mecanismos que asseguram, por meio dos cardeais eleitores, a sucessão do apóstolo Pedro, bispo de Roma. O tema é perene e não diz respeito à pessoa do pontífice “reinante”.
O comentário é de Luis Badilla, publicado em Il Sismografo, 20-05-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em poucas semanas, com a chegada de julho de 2022, abre-se um período temporal de três semestres, até o fim de 2023, que é muito importante para a vida da Igreja. Dezoito meses são tradicionalmente uma espécie de medida cronológica costumeira que enquadra o projeto de cada consistório para criar novos cardeais e que, portanto, leva em conta principalmente a configuração do componente eleitoral, da rotatividade: os purpurados que já passaram dos 80 anos de idade ou que completarão 80 anos nos semestres subsequentes. Tratar dessa matéria é uma tarefa de substancial importância no ministério papal.
Hoje, os cardeais eleitores, chamados a garantir a sucessão de Pedro, são 117. No fim do ano, serão 110. No fim de 2023, serão 99.
O pontífice enfrenta a preparação de um consistório com o conselho de poucos colaboradores, mas de muita confiança, e pode-se dizer que a questão está na pauta do dia hoje, faz parte da agenda papal na qual se esperam decisões exclusivas do Santo Padre.
O próximo consistório para a criação de novos cardeais, o oitavo do Papa Francisco, previsto para o fim do ano, destaca-se no horizonte da Igreja como um evento muito relevante, porque, mais cedo ou mais tarde, os seus membros terão que enfrentar a eleição de um novo bispo de Roma, no contexto de um pós-guerra perigoso para a humanidade toda e com uma gigantesca quantidade de incógnitas sobre a nova ordem internacional, as suas contraposições e alianças, e a reorganização das economias nacionais e regionais, assim como a governança de instituições mundiais estratégicas.
Está em jogo a estabilidade do clima, imprescindível para a cooperação, a confiança e a solidariedade entre povos e nações.
Desde o último dos sete consistórios do Papa Francisco para criar novos cardeais – 28 de novembro de 2020 – já se passaram 18 meses, e isso explica por que os purpurados eleitores sejam 117 neste momento, três abaixo dos 120 purpurados que o Papa São Paulo VI recomendou anos atrás.
O Papa Bergoglio praticamente fez um consistório a cada ano entre o primeiro (fevereiro de 2014) e o sétimo (novembro de 2020). Depois, porém, chegaram dois eventos inesperados que dificultaram e retardaram o habitual dinamismo eclesial entre o centro e a periferia: por um lado, o agravamento da situação pandêmica e, por outro, a piora das condições do papa que, no passado, mais de uma vez, descrevemos como um caso de “frágil saúde de ferro”.
Desde o início deste 2022 até hoje, três cardeais já deixaram de ser eleitores.
Com os cardeais que até dezembro de 2022 perderão a qualidade ou a prerrogativa de eleitor, o corpo eleitoral do Colégio Cardinalício diminuirá em mais sete membros (quatro latino-americanos e três europeus). Portanto, no total, como se sabe, no fim de 2022 haverá 10 cardeais que não serão mais eleitores.
No decorrer de 2023, outros 11 cardeais sairão do componente eleitoral: quatro no primeiro semestre e sete no segundo. Portanto, no geral, do início deste 2022 até dezembro de 2023, os purpurados que ou não são mais eleitores ou não serão nos próximos três semestres alcançarão um número considerável: 21.
O consistório que se aproxima, portanto, será uma passagem fundamental não só pelos números, em particular no caso dos membros do Colégio Cardinalício que são eleitores, mas também pela situação crítica em que se encontra e se encontrará a comunidade internacional no pós-guerra (se assim for...) e, portanto, também a Igreja Católica.
A criação de novos cardeais não será apenas uma resposta à substituição necessária para manter o mais íntegro possível o mecanismo da sucessão, mas também uma sólida preparação, clarividente e oportuna, para o momento em que a hierarquia católica decidirá sobre o novo bispo de Roma em um mundo radicalmente mudado e que se espera que seja para melhor.
Todas essas considerações não têm nada a ver com as condições de saúde do papa ou com as polêmicas sobre o pontificado. São análises, perspectivas e previsões sempre presentes no ministério do pontífice, que também é chamado ao supremo dever de garantir meticulosamente o mecanismo que assegura a integridade das regras que permitem a sucessão do bispo de Roma.
Quem defende que falar sobre essas questões demonstra hostilidade para com o Santo Padre certamente está fora do caminho e não conhece a matéria, delicada, mas sempre presente em todos os pontificados, há séculos.
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A Igreja depois de Bergoglio: o conclave, o pós-guerra e a nova ordem internacional - Instituto Humanitas Unisinos - IHU